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PRESERVA"
POLUIÇÃO NOS RIOS DA AMAZÔNIA PREOCUPA
No início da
década de 90 rio São Joaquim tinha água cristalina
por Suzana Lopes/UFPA.br
foto Wagner Meier
por Suzana Lopes/UFPA.br
foto Wagner Meier
Água
para beber, navegar e ter momentos de lazer é o que não falta na Amazônia. A
região tem o maior recurso hídrico do Brasil – banhada pelas bacias Amazônica e
Araguaia-Tocantins, que totaliza 55,29% das águas que banham o País, o maior rio
do mundo em volume de água (o Rio Amazonas, com uma vazão de 190 mil metros
cúbicos por segundo) e concentra 73% da água doce do
Brasil.
Mas,
quantidade nem sempre é qualidade. Paradoxalmente, está na Amazônia o Estado
brasileiro com o 4º pior atendimento por rede de abastecimento de água e de
esgoto sanitário, o Pará. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, mais da metade da população paraense não
recebe água tratada em casa e mais de 97% destinam indevidamente seus rejeitos,
que acabam sendo despejados diretamente nos rios. Soma-se a esse problema a
contaminação das águas causada por rejeitos industriais. O resultado é um ciclo
vicioso em que homem e natureza se destroem
mutuamente.
Nesse
contexto, desde 1988, o Laboratório de Química Analítica e Ambiental (Laquanam),
da Universidade Federal do Pará, tem se dedicado a realizar análises químicas
sobre a qualidade das águas amazônicas. O objetivo é detectar possíveis
contaminações e, a partir dos resultados, oferecer aos órgãos públicos
ambientais subsídios para a resolução de tais
problemas.
Nos
mais de vinte anos do Laquanam, sob a coordenação da professora Simone Pereira,
da Faculdade de Química da UFPA, foi possível analisar rios importantes da
região, entre eles, os Rios Solimões, Amazonas, Xingu, Tapajós, Tocantins, Pará,
Barcarena, São Joaquim, Guamá, Dendê, Conde, Curuperê e Murucupi e a Baía do
Guajará.
As
pesquisas trouxeram dados alarmantes. Além da contaminação causada por
micro-organismos, decorrente do lançamento indiscriminado de esgotos,
observou-se a grande presença de metais pesados na composição da água dos rios,
em quantidades acima do permitido pela Resolução 357/05, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama). O cádmio (metal que, se ingerido, pode causar câncer),
por exemplo, foi encontrado em altas quantidades no Rio Pará, em 2002 (3,86
microgramas por litro), no Rio Dendê, também em 2002 (8,50), e no Rio Murucupi,
em 2009 (3,37), sendo que o máximo permitido pelo Conama é de um micrograma por
litro.
A
presença de elementos tóxicos nas águas da região afeta a vida nos rios,
causando problemas na cadeia alimentar (peixes contaminados – homens
contaminados) e, em longo prazo, pode provocar mutações genéticas nos animais
aquáticos.
Contaminação:
causas naturais e antrópicas
As
causas do excesso de alguns metais nos rios da Amazônia são diversas. “Certos
metais fazem parte da geoquímica da nossa região, como o ferro, o alumínio e o
manganês. Por isso, dependendo do local, a contaminação dos rios, por esses
elementos, pode ter causas naturais, antrópicas ou ambas", explica a professora
Simone Pereira.
No
caso de locais onde a exploração mineral e as indústrias funcionam em grande
escala, como em Barcarena, o problema natural é agravado pela falta de
tratamento dos rejeitos da produção industrial, os quais acabam chegando aos
rios. Mas não é só o efluente industrial que polui as águas. Os rejeitos
domésticos também são levados diretamente aos rios pelo precário sistema de
esgoto das cidades.
"É
preciso maior conscientização da sociedade. A água dos rios será a água que
vamos receber na nossa torneira. Se ela estiver contaminada, causará problemas
de saúde”, alerta a pesquisadora. De fato, segundo dados de 2008, da Organização
Mundial de Saúde, 28 mil pessoas morrem por ano, no Brasil, por causa de doenças
como Cólera, Hepatite A e Febre Tifoide, provocadas por água contaminada e más
condições sanitárias.
Para
garantir a qualidade de nossos recursos hídricos, são necessários esforços,
sobretudo, políticos. A começar pelo saneamento básico das cidades amazônicas,
proporcionando um fluxo que tanto forneça água limpa à população quanto destine,
devidamente, os rejeitos dos esgotos, para que não desemboquem nos
rios.
O
segundo ponto crucial da questão é a maior rigidez na aplicação das leis
ambientais. "Nós já temos bastantes leis ambientais. Falta, agora, tornar mais
eficiente a sua aplicação e fiscalização", acredita a professora Simone Pereira.
Para ela, é fundamental haver maior integração dos órgãos reguladores, como
Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Ministério Público, Vigilância Sanitária,
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
e Delegacia do Meio Ambiente.
E
mais: é preciso investir em pesquisas: “Os resultados que obtemos com as nossas
pesquisas no Laboratório de Química Analítica e Ambiental são enviados para os
órgãos ambientais para respaldarem processos e minimizarem os danos causados
pela contaminação. Mas ainda faltam investimentos para os laboratórios que
realizam as análises", chama a atenção.
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